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"THE MORNING AFTER THE NIGHT BEFORE"

OU, FALANDO A SÉRIO, SÓ DESTA VEZ



Vistas as coisas à luz do dia, depois de um duche e de um café

Obviamente não me sinto feliz: ter de partilhar José com o país inteiro durante não sei mais quanto tempo não é coisa que me anime mas, bem vistas as coisas, passadas todas as hipóteses de uma surpresa, as inevitáveis expectativas, sem a pressão da campanha, o desassossego das eleições, a algazarra dos resultados, pergunto a mim mesma se estamos de facto pior do que estávamos.

Ontem achei que sim, hoje tenho algumas dúvidas. Depois do duche e tomando o café comecei a pensar que não.

Além de que "pior" não é fácil; Ou seja, pior do que José a governar com uma maioria, é uma coisa que se pode facilmente imaginar mas dificilmente concretizar.

A mudança de cenário da noite passada leva a passar directamente do "tenebroso papão da Direita" para o "tenebroso papão da Esquerda"... Ora a vida não é assim. Acalmemo-nos todos, à esquerda e à direita, os papões só existem enquanto reflexos virtuais dos nossos medos. E ponto.

O PSD perdeu as eleições. Subiu, organizou-se mas perdeu. E agora talvez perca mais qualquer coisa: as aves de rapina, que vestem as camisolas laranja quando lhes dá jeito, começaram de imediato a levantar voo e a gritar, piar, grasnar e outras coisas que a passarada faz, logo ao bater das 20 horas, hora de Lisboa. É feio, é pouco subtil, é muita sede para tão pouco pote. E não vão parar por aqui, são vampiros.

O PS ganhou as eleições... Bem, deve ter ganho uma vez que não as perdeu.
Olhemos de mais perto... Será que ganhou? Claro, vai ter a formação de um governo a seu cargo, vai chefia-lo, vai decidir que acordos pretende ou não.
Foi o partido mais votado com uma diferença de cerca de 7,5% para com o segundo partido, logo, obviamente, ganhou.

Será?

Não estou a pensar seguindo os trâmites utilizados pelos últimos classificados que, quer chova ou faça sol, obtêm sempre "uma grande vitória sobre a derrota do mais votado". Não vou por aí, não vou pela perda de percentagem, não vou pela perda de deputados; seria demagógico, obtuso e irrelevante.
O PS não foi derrotado, o PS não perdeu as eleições. Só me pergunto se as ganhou... Sinceramente não gostaria de me ver nos sapatos italianos de José, em circunstância alguma e agora muito menos.

José é esperto, espertíssimo. José tem uma imensa ginástica mental, é exímio em flick-flaks mentais, tem o treino e a presença de um bom mentiroso que não se deixa apanhar em pequenas traições espelhadas na mudança de expressão facial ou de pequenas hesitações na voz. José começa uma frase com um "veja bem..." e dá a volta ao tema. José é bom a antecipar cenários, joga com as ideias dos adversários, manipula-as como um ilusionista brinca com duas ou três bolinhas entre os dedos fazendo-as girar diante dos nossos olhos. E nós apercebemo-nos do que se passa mas ele já girou as ditas, bolinhas ou ideias, a seu bel prazer. Com uma enorme "lata", sem perder a pose, José deixa sair boca fora a maior enormidade, qualquer "está-se-mesmo-ver" com o ar mais cândido ou indignado, dependendo da fase que atravessa. É claro que também depende do adversário e isto deve ser tido em conta, por todos, sobretudo por José.
E é... Soares e até Manuel Alegre vieram ao beija-mão. A vida está difícil, por um lado e daqui às presidenciais vai um saltinho, por outro. Se José está a subir nas sondagens não convém nada irrita-lo, a Moura Guedes que o diga...

José é uma eficiente e bem oleada máquina de auto-promoção e de auto-defesa, subreptício no ataque. É, mas falha. Falha porque, para além de ser uma eficiente máquina José é, muito obviamente, humano e, como humano, José peca, muito.
José pecou no seu passado, continua a pecar e não vai parar. José é um pecador nato. José é soberbo, orgulhoso e birrento. José é um autoritário que tenta disfarçar-se de consensual - não consegue. José foi eleito o mais sexy dos não-sei-o-quê (ele há gente para tudo) e fingiu não ligar importância; mas é o líder que fala da sua barriguinha. José vive para a sua auto-imagem, que acarinha e constroi; isto fragiliza-o, não suporta críticas e quando não consegue fugir-lhes ou refutá-las faz como um miúdo pequeno: põe um ar pesaroso e apela ao coração: "eu dei o meu melhor, eu dou sempre o meu melhor". E quem dá o que pode... Não José, não chega.

Apesar dos seus sapatos italianos e dos seus tenis de competição José está metido numa camisa de varas, de muitas varas.
O grande drama deste seu governo não será tanto o ser minoritário, já os houve antes e vivêssemos nós num país de gente civilizada o problema resolvia-se, com maior o menor facilidade, com maior ou menor consenso. O grande drama deste governo é a forma como está dividida, em termos quantitativos, a oposição; e como está agrupada, em termos político- ideológicos. José vai ter de agradar a gregos e a troianos, sem esquecer os seus próprios eleitores - são, no mínimo, três frentes de batalha. Ah g'anda José... vai levar grandes estaladões na face esquerda e na face direita faça o que fizer, arriscando-se a que, no desfecho, possa acabar com um valente murro bem frontal, dado pelos seus.
Não queria mesmo estar-lhe na pele.
E mais, e pior... José deu de caras com um outro "animal feroz", não tão esperto nem tão bem rodado mas mais animal e mais feroz. Com Louçã no parlamento, reforçado e sonhando alto, Paulo Portas pode sair de vez em quando para beber uma bica e saberá que deixa José bem entregue; pode voltar revigorado com o seu brilhozinho nos olhos. E pegar onde Louçã tiver largado. Virou!

Nesta altura, a seu favor, José tem a sua inegável capacidade e as guerrilhas internas de um PSD arrivista - Cavaco, quando por lá mandou encarregou-se de afastar todos os que lhe poderiam fazer sombra, todos os que tinham mais tarimba do que ele; deixou um legado de carreiristas e aves trepadoras. Espero que José saiba agradecer-lhe. Há algumas, poucas, excepções mas não creio que estejam sequer dispostos a lançar-se no lodaçal que se perfila.

José precisa, para sobreviver enquanto primeiro-ministro, de uma estabilidade que já pediu mas que não vai ter. Nem com uma maioria José equilibraria este país, os resultados estão bem à vista para quem os quer ver e para quem não acredita em papões. Estabilidade não houve e não vai haver agora. Há vários escorpiões dentro do mesmo aquário e José vai estrebuchar, ter ataques de raiva, ser vítima da incompreensão e da má vontade e irá berrar o que Cavaco dizia: "Deixem-me trabalhar", mas vai saltar e pular ao ritmo dos solavancos ora de um lado ora de outro. E Portugal vai ser abanado com ele. Bonita obra!

E também há a crise... Por mais optimistas que queiramos ser todos sentimos na pele, na carteira, na qualidade de vida, nas contenções e muitos, cada vez mais, no estômago, que "a crise" está longe de ter o fim à vista. Há sinais de retoma económica...Haverá, mas cá pelo nosso rectângulo não se enraízam. Diz o ministério da finanças que o deficit do PIB se situa nos 5,9% - A Comissão Europeia previa uns animadores 6,5% para 2009 e uns 6,7% para 2010. Retoma? Eu não sei quem tem razão mas a verdade é que o Inst. Nac. Estatística se recusou a validar a 2ª notificação de 2009, ao contrário do habitual, remetendo-a ao Ministério das Finanças. Eles que se entendam...

Mesmo assim José insiste em que este é o momento para rasgar os portões de entrada em Portugal; José não é homem de "entrar pela porta pequena", para ele é tudo em grande - vamos fazer um novo aeroporto, mais uma auto-estrada Lisboa/Porto, construir mais uma ponte sobre o Tejo e, acima de tudo, passar a viajar imenso de TGV. Ahhh, grandes obras se fizeram no tempo de José, exclamarão os nossos filhos. O investimento na indústria, na agricultura? Que se lixe, depois hão-de ficar contentes com todas as novas e modernas formas de fazerem escoar os seus produtos para a Europa, mesmo que entretanto deixem de os conseguir produzir. As PME´s são muito importantes mas não percebem nada de modernidade.

"One thing I'll say for him": depois de toda a merda que fez, a que se constata, a que se sabe, a que se desconfia e a que nem se imagina, num aspecto José tem toda a razão, «Foi uma extraordinária vitória».
Foi, de facto extraordinário... Foi uma grandiosa vitória, para si. Parabéns José.


Para aqueles que, mesmo depois do duche e do café ainda não se sentem capazes de sorrir perante o saltitante futuro que se avizinha deixo AQUI uma vingança que, por certo vos deixará bem dispostos.
Cliquem no boneco com o rato e vão ver se não se sentem muito melhor, mesmo virtualmente falando.

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